Adrian Newey, o projetista da F1 que desenha carros a lápis

"O sucesso na Fórmula 1 depende da combinação entre homem e máquina mas, em 1992, um homem desenhou a melhor máquina. Foi campeão. Duas décadas depois, o filme repetiu-se - e já lá vão nove títulos. O melhor aliado de Vettel e o pior inimigo de Alonso são uma só pessoa: Adrian Newey, engenheiro que projetou o Red Bull RB8, a última obra-prima. Com isso, ganhou a alcunha de Leonardo Da Vinci da aerodinâmica, o mestre renascentista que usava o desenho para compreender a realidade. E é a lápis que se traça uma linha de separação entre o inglês e os outros.

"Mudar regras sim, restrições não. Nunca vou defender medidas que colocam entraves à criatividade mas o cérebro é uma coisa fantástica, resolve todos os problemas", explica Newey. Recém-condecorado como Oficial da Ordem do Império Britânico, o inglês de 53 anos, que ganha €10 milhões/época mas todos os anos é cobiçado pela Ferrari e pela McLaren, consegue ter opinão sobre tudo porque faz questão de não descansar por nada. Não é exagero: Newey adormece com um bloco de notas ao lado, já saiu a correr do banho para anotar uma inovação que lhe passou pela cabeça e é capaz de deixar um projeto a meio durante semanas para pensar na melhor forma de o retomar. Tudo nasce à régua e esquadro. Literalmente. Se há algo de que não abdica é das ferramentas que o conduziram ao sucesso - a ele e a quem corre nos seus carros - como o lápis, o compasso ou um estirador no gabinete que tem na fábrica de Milton-Keynes.

O traço de irreverência

A irreverência que Newey tem a menos nas palavras tem a mais nas acções. E isso pode ser um perigo, como se viu quando foi expulso da Repton School, um dos estabelecimentos ingleses mais conservadores: aos 16 anos, apanhou um técnico distraído, colocou as colunas de um concerto dos Greenslade no memo e rebentou com vitrais do seculo XI.
Na universidade de Southampton, e já com essa veia 'imaginativa' à disposição dos estudos, fez uma das mais brilhantes teses do curso de engenharia aeronáutica, "escolha não por amor à aviação mas por ficar mais próximo da F1", confidenciou numa entrevista. A conduzir, a desenhar ou a montar, os carros são a sua perdição. Até coleciona relíquias antigas, como um Jaguar de 1961 e um Ford de 66. "Todos os pilotos com quem trabalhei e que foram campeões tinham algo de especial. Senna, Prost, Hakkinen, Vettel ... Mansell? Era pouco especial mas ganhou como os outros", reforçou para justificar que não é um génio. "Onde melhoro carros? Isso é da nossa propriedade intelectual", lamenta em tom de gozo.

Vettel sagrou-se no Brasil o mais novo tricampeão (25 anos) numa corrida louca que parecia acabada para o alemão logo na primeira volta, após um choque com Bruno Senna. O sobrinho do malogrado piloto brasileiro continua muitos furos abaixo de Ayrton, a única figura que colocou a carreira de Newey em dúvida. "Pensei desistir após o acidente e ainda hoje não consigo ver o documentário sobre ele", já admitiu. "Foi e é a minha maior mágoa".
No último fim de semana, Vettel festejou em São Paulo o título com Neymar, Owen Wilson e 700 brasileiras convidadas para o evento. De Newey, nem sinal - o homem que costuma dizer "este é o meu desenho, agora têm de conseguiu meter aqui tudo" já estava de volta a Inglaterra para começar a preparar as novas batalhas de 2013 e não ser apanhado na curva. Afinal, é esta a linha que separa os campeões.

Carros projectados por Newey que já venceram títulos:

1992 - Williams FW14 - campeão
1993 - Williams FW15C - campeão
1994 - Williams FW16 - 2º lugar
1996 - Williams FW18 - campeão
1997 - Williams FW19 - campeão
1998 - Mclaren MP4/13 - campeão
2010 - Red Bull RB6 - campeão
2011 - Red Bull RB7 - campeão
2012 - Red Bull RB8 - campeão"


fonte: expresso, dezembro 2012

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