Estudo comparativo da Deco-Proteste sobre combustíveis de marca branca

A Deco testou os combustíveis de marca branca (ou low cost) e fez o comparativo com combustíveis de marca, neste caso a Galp. Veja o resultado.
"O início de 2012 confirma uma nova tendência nos hábitos de consumo de combustível. Numa brilhante trajetória ascendente, os combustíveis chamados low cost já vendem mais do que as versões da Galp, o histórico gigante do setor. Consciente da fuga de clientes para esta solução, a Galp tem um posto de marca Base, em Setúbal, a vender combustível low cost desde setembro de 2010.

Nos dias que correm, a hora de atestar o depósito é um verdadeiro rombo para a carteira dos portugueses. O aumento desgovernado do custo de vida e a subida em flecha do preço dos combustíveis nos últimos 4 anos marcam uma nova era, onde a mobilidade em carro próprio se revela como um luxo. A caça ao combustível barato culmina assim numa corrida ao posto com o desconto mais tentador, onde as filas com dezenas de metros são motivo de stresse.

Perante os números mágicos e a força da publicidade já todos hesitamos ao escolher a bomba. Cada vez mais inquietos, os consumidores exigem saber toda a verdade. O gasóleo low cost será pior do que as outras versões? Se usar o gasóleo premium, poderá o carro consumir menos e render mais? E o motor estará mais protegido, de facto?

Publicidade enganosa? Cuide antes do coração da carteira

Para responder a um pedido de longa data dos leitores e acabar com as dúvidas, avançámos com o teste que nunca tinha sido feito por uma associação de consumidores ou entidade independente.
Desenvolvemos cada passo desta missão com o rigor e a independência que guiam a nossa atividade em prol do consumidor. Antes do confronto direto em pista, iniciámos esta investigação há mais de um ano com a recolha das várias alegações. Todas as marcas realçam a melhor qualidade dos seus produtos e garantem que o preço mais elevado compensa. Logo, antes de avançarmos com o trabalho no terreno, convidámos as maiores petrolíferas em Portugal a apresentarem-nos dados objetivos e fiáveis para demonstrar as alegações.
Na altura, as respostas foram sempre pouco claras, evasivas e baseadas na presença de aditivos que a marca compra e utiliza na sua fórmula secreta para o negócio. Destacamos os principais trunfos publicitários, atribuídos sobretudo à versão premium. As mais repetidas são: "antidesgaste", "menor desgaste do motor", "menos custos com a manutenção": "menor consumo", "maior rendimento" e "menos emissões poluentes". Na lista de pérolas, encontramos ainda: "mais potência", "anticorrosivo", "limpeza máxima" e "maior proteção para o coração do motor".

Como foi feito o teste

Insatisfeita com as respostas, a Proteste preparou o terreno para um teste onde foi possível simular o uso real dos combustíveis. Objetivo: avaliar a verdade das alegacões. Foi um verso inteiro, muito mais escaldante do que o habitual, a suar nas pistas e no laboratório, com viagens entre Portugal e o estrangeiro. Tudo para agora apresentar os factos. Só com informação isenta e provas científicas podemos fazer escolhas acertadas.
Para conseguir respostas sobre o consumo, as emissões e a manutenção, realizámos um teste baseado num cenário da vida real. Comparámos o resultado final obtido através do uso de gasóleo regular, premium e dos hipermercados. Apesar do elevado custo desta operação, conseguimos testar o gasóleo de quatro marcas. Tivemos ainda de comprar um automóvel novo por cada combustivel em teste e tudo de forma anónima.
Escolhemos as marcas com a maior fatia do mercado nacional. No lado das grandes redes, a Galp com o gasóleo regular Hi-Energy e o premium Gforce, e no outro, as versões mais vendidas do diesel low cost no Jumbo e Intermarché. Estas são as líderes de mercado no seu segmento. As redes que vendem combustível designado pelas marcas como aditivado alegam poupar no consumo e nas emissões, melhorar o desempenho e poupar na manutenção.

Conduzimos todas as etapas do teste, com os olhos no ponto de vista do consumidor.
Utilizámos 4 carros iguais comprados em Julho (Renault Clio 1.5 dCi, 90 cavalos, no top de vendas) e todos foram entregues em conjunto no mesmo dia diretamente no circuito do autódromo. Do óleo, do filtro, aos pneus, preparámo-nos para ficarem em pé de igualdade, mas cada um a rolar com uma marca diferente de gasóleo. Os carros foram regularmente controlados e em todos verificámos o consumo, as emissões e a acumulação de depósitos no motor. Para alimentar as máquinas, recolhemos o combustível em postos diferentes de Lisboa a Sines, passando por Alcácer do Sal e Setúbal.
Durante um mês, quatro pilotos profissionais conduziram os carros até cada um marcar os 12 mil quilómetros. Todos os dias, cada piloto conduziu um carro diferente, sem saber as marcas de gasóleo em teste. Mudámos os carros de posição na "corrida" várias vezes ao dia. Reabastecemos os depósitos as vezes necessárias com o combustível que comprámos como qualquer consumidor em diversos postos das mesmas marcas.

Apontámos o combustível gasto e as emissões. Além destes indicadores, o impacto no motor só é visível no interior. Chega a hora de desmontar os componentes para análise em laboratório. Toda a frente do carro foi desmontada, para extrair o motor do carro. No exterior, abrimos o motor e recolhemos os pistões, peças essenciais neste estudo. Esta recolha é feita de modo a não tocar nas laterals e no topo, zonas onde se acumulam os depósitos devidos à combustão na mira da Proteste. Enviámos todos os pistões para o laboratório. Aqui, avaliámos o impacto dos diferentes combustíveis na acumulação de depósitos e desgaste do núcleo vital do motor.

Conclusões

As conclusões são claras e não deixam margem para dúvidas. Low cost, regular ou premium, 12 mil quilómetros depois, o resultado para o automóvel é igual ao litro.
Não detetámos diferenças relevantes. O famoso special one do diesel não se destaca, nem protege mais o motor. Também não consegue ser mais verde, como reclama na publicidade. No final desta corrida, os nossos 4 carros exibiram consumos muito idênticos e no interior do motor não vislumbrámos diferenças nos depósitos. Durante o teste, não registámos anomalias de funcionamento no motor.
Em matéria de potência, os pilotos não percecionaram qualquer alteração do início ao final do teste. No capítulo das emissões, não detetámos metano e propano, o que indica que a combustão foi completa. Ao nível de partículas, tambem não podemos concluir que um gasóleo é melhor do que o outro. Realizada por um laboratório certificado, a análise dos depósitos não justifica alarme: 12 mil quilómetros depois, não encontrámos diferenças significativas no desgaste em qualquer um dos 16 pistões. Os nossos técnicos esmiuçaram três fatores: a quantidade e a espessura do depósito, bem como o perfil das marcas na parte superior de cada pistão. No ponto que afeta de forma imediata o bolso dos portugueses, medimos uma diferença no consumo sem significado: 0,13 litros de gasóleo aos 100 km entre o pior e o melhor caso, ou seja, uma diferença de 2 por cento. Contas feitas aos 12 mil quilómetros, temos uma diferença de 15,2 litros de gasóleo sem peso nos quase 775 litros gastos. Por exemplo, se rolar no automóvel com a pressão incorreta nos pneus, aumenta o consumo em 5%, o que equivale neste caso a mais 0,33 L/100 km, ou seja, mais 40 litros. Agora, já não há motivos para duvidar.

Se o impacto é igual, porquê pagar mais? A diferença de preço entre o gasóleo Hi-Energy e Gforce resulta de uma acção enganosa e estamos perante uma prática comercial desleal. Chegou a hora de pôr um travão nas manobras proibidas. As promessas de menor consumo e maior proteção do motor com poupanças futuras não passam de marketing para cobrar mais uma dezena de cêntimos ao litro. Acelere e ateste a jóia onde encontrar o gasóleo mais barato. É igual ao litro.

Gasóleo Consumo L/100km Custo 12 mil km
Galp Gforce (versão premium) 6,41L 1.462€
Galp Hi-Energy (versão regular) 6,43L 1.552€
Jumbo (low cost) 6,45L 1.366€
Intermarché (low cost) 6,54L 1.366€

O que diz o director da Proteste

O estudo permitiu detetar alguma mais-valia entre o gasóleo regular, premium ou low cost?

Não. É tudo igual ao litro. Ao escolher um gasóleo mais caro, os consumidores pagam mais sem obter qualquer dos benefícios alegados (depósitos, desempenho e ganhos ecológicos). Ao contrário do que é afirmado, não há diferenciação. Ou melhor, a única diferença de peso é o preço.

O consumidor é um alvo fácil. Qual é o principal problema?

Está a decidir comprar um gasóleo mais caro, aditivado ou não, com base em informação incorreta e paga mais sem benefícios. Os consumidores estão a ser enganados e exigem transparência. Regular, premium ou low cost, os gasóleos têm o mesmo impacto no motor do automóvel: não há diferenças relevantes de consumo, desempenho, emissões ou desgaste do motor.

Há solução para acabar com estes abusos?

Sim, desde logo denunciar, como já fizemos junto da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica e da Direção-Geral do Consumidor. Na DGC, porque estamos perante publicidade enganosa e junto da ASAE porque estão em causa práticas comerciais desleais ao nível das "características principais do bem ou serviço, tais como (...) as suas vantagens". Esta prática constitui uma contra-ordenação punível com coima. Mas esta não é suficientemente dissuasora deste tipo de comportamentos. Deveria ser alterada para montantes em função do volume de negócios da empresa, como acontece na Lei da Concorrência.

O que recomenda na hora de atestar o depósito?

Conforme revela o estudo, é igual ao litro. Decida com base no preço e não nas múltiplas alegações apresentadas.

E o que exige a Deco para mudar o rumo dos acontecirnentos?

Transparência total já. Basta de enganos. Promovemos um abaixo-assinado onde exigimos ao Ministro da Economia que todas alegações sobre os combustíveis passem a ser comprovadas. Só assim os consumidores podem saber o que estão a comprar e fazer uma escolha livre. O estudo publicado deve ser repetido de forma sistemática. E é urgente criar uma entidade para controlar a publicidade e regular o setor, ao nível da qualidade do combustível e da transparência nos preços, com competências punitivas e coimas de peso real."


fonte: proteste, novembro 2012

1 comentário:

pete

Já ouvi relatos de pessoas que tiveram problemas depois de abastecerem no Jumbo

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