Opel Astra Sports Sedan 1.7 cdti ecoFLEX (2012)

"Um Astra de três volumes? Ou, alargando a análise, um familiar compacto de quatro portas? O mercado europeu está a mudar (especialmente a Leste), mas ainda não parece muito adepto desta solução. A Opel avançou para a quarta carroçaria do seu modelo mais popular. Tem virtudes, falta-lhe ainda qualquer coisa. O caro leitor imagina-se proprietário de um VW Jetta? Já ouviu falar do Renault Fluence? Quando pensa em Ford Focus vê um carro de três volumes? O mais provável é esta bateria de questões recolher muito mais respostas negativas do que positivas. A tradição do mercado transforma os compactos familiares formato sedan em meros satélites dos modelos campeões de vendas. Agora, a Opel entrou neste terreno. Com um carro elegante e muito funcional. Haverá espaço para ele?

A primeira coisa em que se repara, naturalmente, é na estética exterior, até porque reside aí o carimbo de novidade. O Astra sedan é bastante bem conseguido a este nível, com uma linha bastante fluída e capaz de disfarçar o maior comprimento do carro. Esse acréscimo, diga-se já, reside por completo no terceiro volume, o da bagageira, porque a distância entre eixos se mantêm igual à do modelo de origem, o 5 portas. São mais 23,9 cm de carro (e menos 4 cm do que a carrinha, já agora) por mais 500€. E só mesmo o espaço para bagagem justifica esta diferença.

A sensação que fica é que as cotas de espaço interior não mudam, com uma excepção: o banco traseiro parece mais acanhado do que na versão cornpacta, algo que a diferente configuração desta versão poderá explicar. Naturalmente, a bagageira é maior - a bem dizer, é mesmo enorme. O preço a pagar por isto é a menor manobrabilidade e redobrada atenção em espaços apertados, até porque a visibilidade (para todos os ângulos) não é a melhor, "culpa" do desenho dos pilares dianteiros e traseiros - a elegância tem os seus custos.
Lá dentro, um ambiente bem conseguido, acolhedor e simultaneamente austero, naquele equilíbrio que os alemães dominam como ninguém. Os materiais não deslustram e, nalguns casos, merecem mesmo nota bem positiva. Para que o conforto fosse ainda mais completo, faltava algum cuidado extra com a insonorização - ouve-se muito o motor a baixa rotação (o que até agrada a muita gente) e a suspensão peca por ruidosa em mau piso (e a isto já ninguem acha graça).

Sentados ao volante, não demora mais do que breves minutos até termos a certeza de que este é um Astra como os outros e, especialmente, é um Opel. Leia-se: um carro fiável, robusto, muito competente e, acima de tudo, extremamente fácil de conduzir. Não há manias nem reacções estranhas. Este é um carro universal, que não nos deixaria ficar mal. Outra coisa, bem diferente (pelo menos nesta motorização), é a procura de emoções fortes ... No seu registo sempre progressivo, o motor diesel de 130cv de potência mostra-se mais do que suficiente para dar ao Astra Sedan um carácter de carro pró-activo. Tem boas recuperações a alta rotação, harmoniza-se a contento com a caixa manual de seis velocidades (esta às vezes um tudo-nada complicativa) e o bastante discreto sistema Start/Stop. Já agora, garante igualmente consumos civilizados. Mas não tem "pica", não dispara de rotação quando se força o acelerador, é muito difícil arrancar-lhe uma reacção mais "emocional" - e o mesmo se pode dizer do comportamento em curva. O que, também, não serão pecados capitais para uma berlina familiar ...

Há é alguns sinais estranhos do construtor quando começamos a olhar para a lista de opções. Apresentada como sinal da evolução dos tempos, a nova gama Astra (em quatro declinações: 5 portas, sedan, carrinha e OPC) pode incorporar algumas soluções tecnológicas que habitualmente só encontramos em carros de gama superior. A isso juntam-se ítems que a própria Opel concebeu e desenvolveu. Mas o sedan fica longe disto tudo. Sim, há uma suspensão de controlo electrónico, mas apenas para a motorização gasolina 1.4 - ficam de fora os diesel 1.3 e 1.7. Câmara dianteira e sistema Opel Eye (reconhecimento de sinais de trânsito, indicador de distância para o veículo da frente, alerta de saída de faixa)? Por 500€, mas só no 5 portas, na carrinha e no OPC. Então e o sistema traseiro de transporte de bicicletas, o elogiado Flex Fix? São 700€, mas só para quem compre o 5 portas ou a carrinha. Câmara traseira de estacionamento (num pack que inclui o sistema de navegação)? Custa 1000€ aos proprietários do 5 portas ou da carrinha. Estas decisões parecem revelar alguma falta de confiança nas hipóteses de sucesso do modelo. Vamos a ver. Em termos de preços, e tal como sucede nas dimensões exteriores, o sedan (28.100€) faz a ponte entre o compacto (27.600€) e a carrinha (28.400€). Perante a concorrência externa, este preço até faz boa figura, excepção feita ao campeão da economia, o Chevrolet Cruze, que custa quase menos seis mil euros. A VW e a Seat (com o Exeo herdeiro do chassis do Audi A4) são bastante mais caras, a Renault, a Ford e a Mazda apresentam preços ligeiramente mais baixos do que a Opel, mas não têm, por exemplo, a mesma potência (ficam-se entre os 110 e os 115cv).

Problema do acesso à bagageira

Só há duas maneiras de abrir a bagageira do Astra: no botão que está no tablier ou através do comando à distância. Como este não funcionou durante todo o teste, restou ir lá dentro carregar num comando de cada vez que se queria aceder ao compartimento de bagagem. Uma chatice. E que embaça o brilho de um espaço generoso e bem equipado, embora com acesso apenas sofrível, devido à altura em relação ao solo.

Proliferação de botões mantém-se

Muitos botões. Demasiados comandos. O coro de protestos tem sido bastante consensual na imprensa da especialidade, mas os homens da Opel mantêm a sua: assim é que está bem. Não é, portanto, um problema a que o construtor não consiga dar resposta. É um não-problema
- para o construtor, reforçe-se. Para quem se senta ao volante é um problema. E mesmo uma boa habituação não resolve completamente o assunto.

Prós e contras

+ Visual, comportamento, bagageira, facilidade de utilização, direcção, preço
- Política de extras, visibilidade a 3/4 para a frente e medíocre atrás, falta de emoção, insonorização, acesso aos bancos traseiros, fechadura da bagageira

Mecânica

Motor: Diesel, dianteiro, 4 cilindros em linha, 1686cc, 16 válvulas
Tracção: dianteira
Alimentação: injecção directa, por conduta comum com turbo
Potência: 130cv às 4000 rpm
Binário: 300 Nm entre as 2000 e as 2500 rpm
Caixa: Manual de 6 velocidades

Dimensões

Comprimento: 4658 mm
Largura: 1814 mm
Altura: 1500 mm
Peso: 1393 kg
Pneus: 225/50 R17
Mala: 460 L
Depósito: 56 L

Prestações

Velocidade máxima: 206 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 11,3 s

Consumos

Combinado: 3,7 L/100km
Emissões CO2: 99 g/km

Preço

A partir de 28.100 €"



fonte: público, novembro 2012