Detroit, ex-capital do automóvel, entra em bancarrota (2013)



A cidade de Detroit, que em 1950 foi considerada a capital do automóvel americano, entrou em processo de bancarrota. Outrora o esplendor da indústria automóvel americana, com inúmeras fábricas e sedes de marcas, geradora de riqueza e emprego, com a crise económica do subprime o cenário alterou-se. Detroit apresentou em Julho de 2013 o maior pedido de falência municipal da história dos EUA com uma dívida estimada de 19 biliões de dólares. Após a notícia do pedido de falência, a Casa Branca emitiu uma declaração dizendo que o presidente Obama está acompanhando a situação e que vai continuar a apoiar Detroit.

A bolha imobiliária do subprime teve grande expressão em Detroit. A casa de Henry Ford ainda existe em Detroit, mas persiste porque subiu ao estatuto de património nacional. A esmagadora maioria das casas de Detroit foram abandonadas e o risco de incêndios aumentou. Hoje podem-se comprar imóveis por 1 dólar em bairros desertos. Com a crise económica e a estagnação da indústria automóvel americana, o desemprego em Detroit subiu em flecha.

Hoje a câmara de Detroit enfrenta um enorme défice, e tem poucos recursos para sustentar vários serviços básicos como bombeiros, policiamento ou iluminação pública. O crime e tráfico de droga dispararam. Detroit tem a mais alta taxa de crimes violentos dos EUA. A redução da população fez encolher as receitas municipais. Detroit virou uma cidade fantasma. A solução encontrada foi deitar abaixo bairros inteiros e transferir os poucos habitantes existentes para outros locais, para cortar custos com bombeiros e com a iluminação pública. O objectivo é mesmo reduzir a área suportada pela câmara de Detroit e devolver muitos terrenos à natureza.

Durante o boom do período pós-guerra, Detroit floresceu e fervilhou de actividade. Foi uma cidade próspera, muito ligada à indústria automóvel. O protótipo do automóvel americano perdurou por um largo período, mas assim que os ventos mudaram Detroit entrou em declínio. Desde que os EUA foram invadidos por outro tipo de veículos - mais económicos, menos poluentes, mais fiáveis, mais apelativos e tecnologicamente mais evoluídos - a procura por automóveis americanos caiu a pique. Com a chegada de outros mercados como o japonês ou europeu os cidadãos americanos começaram a preferir carros mais desenvolvidos em detrimento de viaturas grandes, poluentes, gastadoras e temperamentais.

Enfrentar a concorrência feroz dos japoneses e europeus obrigava a alterar o status quo existente. Ou seja, fabricar motores mais económicos e veículos mais compactos foi um princípio olhado com desdém pelos inúmeros CEO's das marcas americanas. Era algo que ía contra o "american way of life". Os americanos permaneceram orgulhosos na sua posição e não quiseram mudar mentalidades. E quem não se adapta aos tempos de mudança só tem uma saída: fechar as portas. Foi isso que aconteceu. O reflexo do estado obsoleto em que se tornou a indústria automóvel americana foi a extinção de vários símbolos históricos. Marcas como a Pontiac foram obrigadas a encerrar as fábricas. E algumas como a Ford ou a GM só sobreviveram ao colapso porque foram auxiliadas pelo governo americano de Obama. Outras, como a Chrysler que foi adquirida pelo grupo Fiat, foram resgatadas por marcas estrangeiras.

No primeiro dia em que chegou à sede da Chrylser, a primeira coisa que fez o patrão da Fiat foi visitar o último andar. Com uma vista panorâmica enorme era aí que se reuniam os CEO's da Chrylser. Foram eles que levaram a marca à falência com políticas erradas e por isso aquele espaço iria ficar vazio. Os novos donos da Chrysler iriam passar a trabalhar mais junto da fábrica e longe daquilo que não interessa. Um acto que parece irrelevante mas que se reveste de um enorme simbolismo.

1 comentário:

Pete

Detroit teve a mão de obra da indústria automóvel mais bem paga do mundo. OS sindicatos também contribuíram para a decadência.

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